BRUXARIA DA NATUREZA
COMEMORAÇÕES
Os antigos festivais celtas, eram, em sua maioria, rituais do fogo. O termo celta tan ou teine é utilizado ainda hoje em muitos topônimos britânicos, como Tan Hill, que significa Colina de Fogo. As fogueiras eram montadas em grandes colinas. Os participantes pulavam as fogueiras pequenas e passeavam em torno das maiores. O fogo dava luz e calor nas noites frias, representando também o princípio fundamental da energia pura.
Já que tempo e espaço são circulares, o conceito da Roda do Ano foi baseada nesse princípio. É muito fácil entender que vemos o espaço em nossa volta dividido em quatro partes: à frente, atrás, à esquerda, e à direita. Ainda mais simples compreender a Terra e a passagem do tempo.
As quatro direções (norte, sul, leste e oeste) são paralelas às quatro estações (inverno, verão, primavera e outono). É essa divisão que gera as oito festas anuais da Bruxaria.
Existem duas estações fundamentais para os celtas: A do gelo (o Inverno) e a do fogo (o Verão).
O ano celta começa no Halloween, para eles, o primeiro dia do Inverno. Era um momento de poder espiritual, pois ficava entre o ano velho e o novo, entre os anos, um tempo entre tempo. O véu entre os mundos se erguia. Ainda acreditamos que, nessa época, o espírito e a matéria são menos fixas e a vida flui mais facilmente entre os dois mundos. Os espíritos nos visitam, em nosso mundo material, e nós visitamos nossos ancestrais e entes queridos, no mundo espiritual. Preparamo-nos assim, para vivermos mais um ano, após essa recuperação de conhecimentos ancestrais.
• Lammas - 01/02
Comemorado no dia 1º de Fevereiro, Lammas também é conhecida como Lughnasadah, e é a festa de celebração da colheita e preparação para o outono que se aproxima.
O nosso círculo ritual é uma expressão de gratidão e de reconhecimento à terra por sua abundância, e pedimos que todas as criaturas vivas possam compartilhar dela. É a festa do pão e sempre colocamos pão fresco, recém saído do forno, em nossos altares, para Lammas. Veneramos as grandes Deusas do grão, como Ceres e Deméter. Usamos flores nos cabelos, especialmente flores amarelas, para simbolizar a cor do sol quando está em seu apogeu.
Em algumas tradições é chamada de Lughnasadah para homenagear o grande Deus guerreiro celta Luh. Em sua honra, faz-se jogos e organiza-se eventos esportivos. As competições atléticas têm por objetivo celebrar a plenitude da vida, o vigor e a boa saúde de que as pessoas gozam mais no auge do verão do que em qualquer outra época do ano.
• Mabon - 21/03
Também conhecido como Equinócio Outonal, o Mabon é comemorado entre os dias 20 e 23 de Março. Para quem não sabe, a palavra Equinócio Outonal significa o início da estação do ano do Outono.
As populações pagãs trabalham arduamente para a colheita que ainda está por fazer, seja de milho e feno nos campos, ou dos projetos e metas pessoais que planejamos para os meses de verão. Quando o sol atravessa o Equador e ruma para o norte no Equinócio de Outono, celebramos de novo o magnífico equilíbrio que a Roda do Ano, em sua eterna rotação, nos promete.
Esses equinócios são grandes lembranças de que os dias sombrios de inverno, assim como os inebriantes dias do verão, são temporários, de que todas as coisas têm suas estações e nenhuma durará para sempre. A lei da polaridade e do ritmo requer que todas as coisas sejam equilibradas por seus opostos. Nesses dias sagrados, os nossos ancestrais alinham-se psíquica e espiritualmente e equilibram-se no fluxo e refluxo da vida.
• Samhain - 01/05
Samhain ou Halloween é comemorado na noite do dia 30 de Abril para o dia 1º de Maio. É o Ano Novo das Bruxas. Dia em que se abrem os portais que nos separam do mundo dos mortos. Temos a chance de vivenciar outras dimensões e falar com nossos antepassados. É o sabbath que nos traz os ventos gelados do sul, indicando-nos o caminho da introspeção criativa.
Samhain é a festa céltica dos mortos, venerando o Senhor Ariano da Morte, Samana (os irlandeses a chamam de a Vigília de Saman). Mas desenvolveu-se numa celebração mais do mundo espiritual em geral do que de qualquer Deus específico, assim como da cooperação em curso entre esse mundo e o nosso, de matéria mais densa.
As Bruxas ainda deixam "bolos de alma" para os ancestrais mortos, um costume que se transformou na oferta de refeições ao sem-lar e aos viajantes que se perdem nessa noite. Nos tempos antigos, acreditava-se que se as oferendas e sacrifícios corretos não fossem feitos, os espíritos dos mortos se aproveitariam da abertura na costura entre os mundos para vir causar danos ou maldades aos vivos. A noite ainda retém esse ar ameaçador, mas a maioria das Bruxas não a vê tanto como uma ameaça de ancestrais infelizes do que como a chegada das potências de destruição: fome, frio, tempestades de inverno.
Na Roda do Ano, Samhain marca o início da estação da morte, o inverno. A Deusa da Agricultura cede o seu poder à Terra ao Deus Cornífero da Caça. Os férteis campos do verão cedem lugar às florestas nuas.
Para celebrar esse anoitecer mágico acendiam-se fogueiras nos sidh, ou colinas encantadas, nas quais os espíritos residiam. Aí moravam os espíritos dos ancestrais e deuses vencidos dos períodos mais remotos da história e da mitologia. Pessoas que não participavam nesses ritos, mas temiam, não obstante, a presença de espíritos hostis na terra dos vivos, tentariam rechaçá-los assustando-os com máscaras grotescas talhadas em abóboras e iluminadas por dentro com velas.
Alguns desses aterradores espantalhos parecem ser máscaras mortuárias, mas entre os celtas antigos, a caveira não era uma imagem assustadora mas um venerado objeto de poder. De fato, em certas eras havia um culto muito difundido de caveiras entre as tribos célticas, e vastas coleções de crânios foram desenterradas em escavações arqueológicas.
As modernas caveiras e esqueletos das Bruxas não são assustadores mas sim um lembrete de nossa imortalidade (assim como de nossa mortalidade) porque os ossos são o que dura por mais tempo após a morte, sugerindo que a existência não termina de uma vez para sempre quando o espírito deixa o corpo.
Em culturas xamânicas, uma clássica experiência de iniciação para o novo xamã era "ver" o seu esqueleto, durante um estado de transe visionário, e até assistir ao seu próprio desmembramento por espíritos amigos e ser refeito de novo - uma outra experiência de renascimento e nova vida que as Bruxas celebram nessa mais sagradas das noites.
Samhain era uma noite de morte e ressurreição. A tradição céltica diz que todos os que morrem a cada ano devem esperar até Samhain antes de atravessar para o mundo do espírito, ou o País do Verão, onde começarão suas novas vidas. Nesse momento de travessia, podem aparecer os gnomos e fadas, os espíritos de ancestrais que ainda têm tarefas por concluir neste mundo. Alguns ajudarão os mortos recentes a deixar o nosso mundo e ingressar no próximo; outros poderão vir para brincar e fazer travessuras. Toda vida e morte humana é parte do grande intercâmbio entre os mundos da natureza e do espírito.
Hoje, muitas pessoas tentam pescar maçãs num vasto caldeirão ou barril, apanhando-as com os dentes; a maçã simboliza a alma e o caldeirão representa o grande ventre da vida. A noite é também um tempo para adivinhação quando o futuro pode ser mais facilmente visto por aqueles que sabem perscrutar os dias por vir. A nova vida do ano vindouro é mais evidente nessa noite especial.
Em Salem, não só adivinham o futuro mas o projetam ao vestirem trajes que refletem o que gostariam que viesse a ser ou vivenciassem no novo ano. Também vestem muito laranja para simbolizar as folhas mortas e os fogos agonizantes do verão, assim como o negro tradicional para captar e encher nossos corpos com luz nessa época do ano em que os dias estão ficando mais curtos e existe fisicamente menos luz e calor.
• Yule - 21/6
Também conhecido como Solstício de Inverno, a Yule é comemorada entre os dias 20 e 23 de Junho. Para quem não sabe, a expressão Solstício de Inverno significa o fim da estação do ano do Inverno.
Os antigos acessórios pagãos de ramos de azevinho, hera, pinheiros, árvores iluminadas, cerveja quente e vinho temperado com especiarias, porcos assados, enormes troncos Yule, canções e presentes, ainda fazem parte de nossas celebrações. É esse o tempo em que o sol atinge sua posição mais meridional em sua jornada anual. Quando os povos antigos observaram isso, souberam que em questão de semanas o veriam começar a nascer mais cedo e ligeiramente mais ao norte até seis meses depois, quando estaria nascendo em seu ponto mais setentrional. Apesar do fato de que ainda estão por chegar alguns dos dias mais frios e do tempo mais inclemente, Yule era uma época de alegria e divertimento.
• Candelária - 30/7
Também conhecida como Imbolc, termo arcaico que significa "em leite", a Candelária é a época em que as ovelhas, se estiverem grávidas, começam a produzir leite - um sinal ainda mais certo da próxima chegada da primavera. A maioria dos povos agrícolas celebra um sinal semelhante de que o inverno está quase no fim: a seiva subindo nos bordos, o retorno de certas aves, o surgimento de uma constelação primaveril no céu do inverno.
Durante o inverno, quando as pessoas da Idade da Pedra permaneciam amontoadas em suas cavernas ou choupanas, começaram a perceber a necessidade de purificação de um modo mais direto do que durante os meses mais quentes, quando a vida era toda ao ar livre, perto dos rios, lagos e aguaceiros. Os ritos invernais de purificação ainda subsistem entre nós.
O fim de Julho ou o início de Agosto são o coração do inverno, quando os suprimentos alimentares se reduzem, os caçadores podem fracassar, a lenha para as fogueiras pode esgotar-se por completo. É uma época de grande necessidade de calor, abrigo, vestuário e comida. Em algumas tradições, os celebrantes passam uma última noite banqueteando-se e divertindo-se à vontade antes de iniciar-se o período seguinte de jejum e purificação.
Mardi Gras, Carnaval, as antigas Lupercalia romanas, a Feast of Fools, ocorrem em torno desse período. As Bruxas reúnem refeições comuns para suas celebrações. Dão alimentos para asilos e sopas para os pobres. Veneram Brigid, como a Deusa céltica do Fogo, que pode manter o fogo ardendo nas lareiras durante essas escuras e frias noites.
• Ostara - 21/9
Marca o fim do Inverno e o início da Primavera. Festa em que as bruxas ornam seus altares com flores e ovos pintados, demonstrando que é chegado o tempo da regeneração do velho e do desabrochar da sexualidade. Tal como no Equinócio de Outono, as Bruxas celebram o grande equilíbrio e harmonia que existe na passagem das estações e nas seqüências de noite e dia.
É a época do ano em que noites e dias são de igual duração. O gelo derrete-se, os rios correm cheios, folhas começam a brotar, a grama enverdece uma vez mais, nascem os cordeiros. Nessa época do ano, os antigos povos tribais da Europa homenageavam Ostera, ou Esther, a Deusa da Primavera, que segura um ovo em sua mão e observa um coelho pulando alegremente em redor de seus pés nus. Ela está de pé sobre a terra; usa flores primaveris nos cabelos.
As Bruxas esvaziam ovos e pintam-nos com cores brilhantes, fazendo talismãs para a fecundidade e o sucesso na próxima estação do verão. Iniciam os jardins de flores, legumes e ervas que desempenharão um papel importante nos rituais, feitiços e poções.
• Beltane - 31/10
Sabbath que anuncia a chegada do verão e intimamente ligado aos ritos de sexualidade e fertilidade. À 31 de Outubro são acesos os fogos de Beltane e é celebrado o grande ritual da fertilidade do Deus e da Deusa, com mastros enfeitados (Maypoles), música e considerável soma de fogos nos campos verdejantes. No hemisfério norte, a data é dia 1º de Maio, mês luxuriante.
O quinto mês do ano expressa todos os significados sexuais e sensuais do número cinco; os sucos corporais são recarregados; sentimos subir em nós a nossa própria seiva; e os nossos cinco sentidos são excepcionalmente agudos e penetrantes. A natureza celebra a grande fecundidade da terra em rituais de sexo, nascimento e nova vida. Homens e mulheres também participam na exuberância da natureza ao ansiarem por unir-se e reproduzir-se. Em antigos costumes e rituais, reencena-se simbolicamente a união da Deusa e de seu jovem Deus Cornífero. E apaixonam-se.
No Beltane, trajam-se de verde para homenagear o Deus céltico Belenos. Tornam-se o "povo verde", os pequenos pãs com máscaras de folhagem, orelhas pontiagudas e pequenos chifres, representando a força vital da natureza, agora mais evidente do que nunca nos campos verdes. Acendem fogueiras (Beltane significa o fogo de Belenos) e pulam sobre elas para mostrar a proeza e entusiasmo com a estação que se avizinha.
Nas sociedades agrícolas do hemisfério norte, maio era a época de levar o gado para seus campos estivais de pastagem, o qual era conduzido entre duas imensas fogueiras a fim de o purificar das enfermidades do inverno e de exorcizar quaisquer espíritos maléficos invernais.
No ritual, existem os papéis do jovem rei, do velho rei e da rainha dos bosques mágicos. Os quadros vivos tornam a contar a história de como nessa época do ano o jovem rei do verão mata o velho rei do inverno para obter a mão de sua jovem esposa, a Rainha de Maio (hemisfério norte). Ela é a Terra-mãe, ainda jovem e viçosa, mas que em breve estará inchada de vida e dando uma colheita abundante à terra. Na Alemanha, a noite da véspera do 1º de Maio chama-se Walpurgisnacht.
As forças sexuais da primavera são abundantes por toda parte, popularmente chamadas de "febre de maio" (no hemisfério norte). Simbolicamente, celebra-se as forças da estação erigindo mastros enfeitados, ou Maypoles, em torno dos quais dançam os jovens de ambos os sexos, entrelaçando fitas multicores, entrelaçando-se eles próprios enquanto revestem os mastros em cores festivas.
Um antigo costume diz que os vínculos conjugais estão temporariamente suspensos durante esse mês, e que traz infelicidade casar agora. Por isso ocorre a grande afluência de casamentos em junho.
Contraditoriamente, no Brasil, o mês das noivas é justamente o mês de Maio.
• Litha - 21/12
Litha ou Solstício de verão, é dedicado às deusas ligadas à fertilidade e sexualidade.
É a noite mais curta do ano, denominada em inglês a Mid-Summer Night, quando Puck e Pã e todos os tipos de fadas e elfos andam correndo soltos por toda parte. Com tão pouco tempo para dormir, confundimos sonho e realidade.
Esses dias e noites do Solstício de Verão estão repletos de grande poder e magia. São tempos para realizar rituais que vicejam prodignamente na estação, quando a vida é mais fácil e há tantas horas de luz diurna que podemos realizar todas as nossa tarefas com tempo de sobra para repousar e divertir-nos.
É uma época de viagens e de grandes festivais ao ar livre, para dormir, cozinhar e comer a céu aberto. Viajamos para nos visitarmos reciprocamente e convocar todas as "tribos" da tradição pagã para que venham e se divirtam juntas.