Vampiros e Vampirismo
O VAMPIRO
(do livro Vampiros de Marcos Torrigo)
O Vampiro tem a maravilhosa característica de ter sido humano. É um ser especial, um deus, o qual podemos nos tornar. Paródia de Cristo, Buda, do Avatar, o homem feito deus. Frater Piarus
Para o Vampiro não há céu nem inferno, um paradoxo a caminhar primevo entre os mundos, Morto-vivo. Outrora homem, agora antideus. Sua antivida é pautada pela violência, sede de sangue, paixão e terror, o horror que se esconde nas sombras. Quebrando e destruindo todas as normas, regressando ao atavismo mais profundo. Um ser habitante do limbo, um limbo glorioso, isso é o vampiro. Sua ocorrência geográfica a tudo engloba, dos Bálcãs ao Egito, dele aos confins das florestas equatoriais da Amazônia e, é claro, até as distantes galáxias. Civilizações, como Sumerianos, Babilônicos, Indianos e os povos Hebreus, Maias e Astecas conviveram com o fenômeno do Vampirismo. Seus ataques foram registrados à luz do dia, e à luz da Era das Luzes, dividindo o palco com Diderot e Voltaire em plena era do Iluminismo. Deixando o racionalismo de cabelo em pé, o epicentro dos ataques não foi algum confim distante, mas o esclarecido Império Austro-Húngaro, justamente a Áustria que seria a pátria de Sigmund Freud. Desde Arquétipo desconcertante, deste tabu é que trataremos neste livro, pois o vampiro está ali no espelho, repousando, destruindo e salvando, afinal além de matar sua vítima ele confere a vida eterna.
BRUXARIA E VAMPIRISMO
(do livro Vampiros de Marcos Torrigo)
Bruxaria e Vampirismo Oh amigo e parceiro da noite, tu que te extasias com o ladrar dos cães acuando suas presas, com o sangue vertido, vagueias em meio às sombras passeando entre tumbas, cobiças o sangue e fazes tremer de temor os mortais! Gorgo, Mormo, a Lua de mil faces, apreciem os nossos sacrifícios. A Magia como um todo está inclusa na história do vampirismo, seja a bruxaria, o xamanismo ou o vodu, não importa o rótulo. Mas onde reside o porquê desta associação, mera crendice? Muito possivelmente, não, quase sem medo de errar, a afirmação mais correta seria que a Magia é a grande motivadora do vampirismo. Quando uso o termo Magia estou expandindo o seu significado original e lhe atribuindo uma nova valoração. Sendo entendido como Magia toda a relação do ser humano com o mistério e o oculto, na tentativa de tentar compreendê-lo, mas acima de tudo de compreender a si mesmo, como individuo e espécie. A ciência é prima-irmã da Magia, e não poderíamos deixar de juntar a este nosso conceito expandido, os fenômenos parapsicológicos. Melhor que toda esta minha verborragia são os pensamentos de um certo escritor, em especial ao que tange e pode ser aplicado ao vampirismo. Arthur Machen, em algumas de suas obras, tem uma visão iluminada, muito similar aos axiomas de To Mega Therion. A sua obra faculta algumas reflexões bastante interessantes, que levam do vulgar ao estupor, e maravilham o Régio. Por mais que Machen mantenha aparentemente uma visão maniqueísta, ele insufla idéias fantásticas. Dentre elas nós temos os kalas, os centros secretos do organismo humano, terras inexploradas para o seu possuidor, outra afirmação de uma de suas obras faz lembrar Nietzsche, além do bem e do mal. Os senhores do mundo devem ir além do bem e do mal, só aqueles que os conhecem e que a eles transcendem chegarão ao mundo real, a causa última de tudo. Tomar o céu de assalto, querer ser deus, a maior de todas as blasfêmias. Estes que assim agem são ascetas negros e, como os outros iniciados, comungam, só que com as forças dos abismos profundos, onde habita o mal. Não sejamos vulgares, estes que assim agem muitas vezes tem a conduta mais ilibada de que os santos. Os iniciados do caminho da mão direita tentam elevar sua consciência rumo ao divino, levando uma vida sã, são extasiados pelo espírito. Os ascetas negros são movidos por uma paixão aterradora em sua busca pelos mistérios inversos. Os motivos de seus anseios escapam ao comum. Somente o iluminado, conhecedor da luz e sombra capta o seu conhecimento. A bruxaria e os cultos femininos são tão antigos quanto o tempo. No Paleolítico, o corpo da mulher era sagrado, divino por natureza, mistério, a anima mundi. As mulheres eram para muitos antropólogos e mitólogos as portadoras do saber e poder Mágico. Tanto é que há mitologias em todo o globo tratando do processo que os homens tiveram que encetar para tentar controlar este poder. Em resposta a este poder foram criadas as sociedades secretas exclusivamente masculinas, similares à maçonaria de hoje. O enfoque feminino possivelmente era mais ligado às plantas e o masculino aos animais. Este conflito retrata uma deusa imanente versus um deus transcendente. Muito do mal e do demoníaco associado à mulher é advindo desta transição. Sabemos que os deuses dos vencidos são os demônios dos vencedores, e com o arquétipo feminino não foi diferente. Para as culturas antigas o vampirismo estava intimamente associado ao feminino: Lâmia, Lilith e uma infinita turba de lascivas e demoníacas entidades femininas. É bem sabido que, para as grandes religiões de hoje em dia, a mulher é associada ao mal, ao pecado e à tentação. Algumas teorias, como já vimos, falam de uma era matriarcal que teria sido sobrepujada pela patriarcal, por mais que este dado antropológico gere polêmica, ele se apóia na psicologia interna, uma identificação com a mãe e a fase oral, e o patriarcado, a fase fálica. E fácil imaginar que esta mudança não ocorreu de uma só vez, e também foi feita de forma violenta muitas vezes. Encontraremos resquícios em várias partes do mundo, pois nos judeus até hoje um filho de mãe judia é judeu, mas o de pai judeu não. Para a compreensão destes fatos e sua ligação com o vampirismo, iremos tratar de um arquétipo que sintetiza sobremaneira a miríade de elementos da Magia e do Vampirismo.
LILITH
(Extraído do livro Vampiros, por Marcos Torrigo, Editora Madras)
Lilith, intimamente associada aos Vampiros, por sua vez também às bruxas, é um espectro que paira sobre a religião judaica. No ato sexual ela ficava por cima de Adão, e não quis ser subjugada pelo macho, daí sua revolta. Este fato retrata, talvez, a transição, dos cultos a Deusa para o Deus judaico, de uma sociedade agrária ou coletora para uma pastoril.
Este fato se repetiu inúmeras vezes pelo mundo (com isso não estou falando de sua existência objetiva, mas sim subjetiva, mas com exteriorizações).
Lilith, em sua origem, deve ter sido um arquétipo da grande deusa mãe, que tentou resistir a invasão do patriarcado. Possivelmente Abel, o pastor, foi sacrificado a esta grande mãe.
Mas as coisas não foram tão fáceis para os pastores patriarcais. Muitas mulheres judias ficaram fascinadas pelo culto à grande mãe. Um bom exemplo é a história de Sodoma e Gomorra. Lot foi expulso da cidade, vejam esta passagem: "o povo de Sodoma cercou a casa de Lot, do mais velho ao mais jovem. E eles proferiram: que se vá embora, um estranho, que veio morar conosco e agora quer ser um juiz?". Com isso fica claro que eles não eram judeus (os habitantes de Sodoma), e que a alegoria da conversa entre Lot e Deus é um acréscimo posterior.
A parte mais curiosa tem a ver com a mulher de Lot, que não quis acompanhá-lo, pois possivelmente preferiu ficar com o culto à Grande Deusa. Ou seja, a história de virar uma estátua de sal é mais uma alegoria. Lot afogou suas mágoas com as duas filhas em uma relação incestuosa.
O nome Lilith vem da Mesopotâmia, encontrada nas civilizações sumeriana, acadiana e babilônica, onde há várias divindades nas quais ocorre o fragmento "lil" como, por exemplo, os deuses Nilil, Enlil entre outros. Belit-ili, Lillake, a cananéia Baalat, a Divina Senhora são alguns de seus nomes. Nas representações mais antigas de Lilith ela apare-se como Lilake (cidade de UR 2000 A. C).
Lilith está intrinsecamente associada à coruja, sendo representada como uma mulher sedutora, torneada, de seios bem formados e suculentos, uma yoni* (Nota: vagina) que exala o perfume do amor, com pés de coruja e asas. Na literatura hebraica, ela é a primeira mulher de Adão. Ao que tudo indica para a cabala, (Zohar) o deus judaico criou Lilith e Adão como gêmeos. Ela queria igualdade para com ele, mas lhe foi negada. Ela não se subordina a Adão, e conseqüentemente incorre na ira do deus. Ela foge para o Mar Vermelho e, com Samael, cria uma infinidade de seres demoníacos, que juraram atacar a raça humana (fruto da união de Adão e Eva). Uma lenda islâmica atribui a ela a origem dos djinn (gênios), seres de fogo que vivem nos espaços entre mundos.
Ela era a responsável pela morte de crianças, esterilidade e pelo aborto. Também é sua característica a sedução sexual. Surge no meio da noite, trazendo sonhos eróticos carregados de emoção, e os homens são as principais vítimas. Quando despertam, se dão conta do vulto monstruoso pousado sobre seu peito e pronto a absorver o esperma fruto da ereção. A morte, a loucura e a depressão são os resultados desta visita.
VODU E VAMPIRISMO
(do livro Vampiros de Marcos Torrigo)
Vodu e Vampirismo Vodu é uma palavra do dialeto africano fongbé de Dahomé na África. Designa a vida religiosa, o culto. O vodu em sua origem se referia ao antiquíssimo culto da Serpente, Dangbé (Damballa no Haiti). Nos templos do deus havia inúmeras sacerdotisas, responsáveis pelo seu culto. Nas cerimônias de vodu, o sangue é oferecido as Loas (divindades, similar aos Orixás), e também é bebido, desta forma o sacerdote vodu é possuído pelo Loa. O vodu usa os veves, que são desenhos simbólicos que representam e atraem os Loas, lembrando os pontos riscados afros brasileiros, e a magia talismânica medieval. No panteão Vodu o Barão Samedi tem especial relevância para o nosso estudo. Samedi, palavra de origem francesa inspirada em sábado. Sábado, um dia especial para o fenômeno do vampiro devido a todas as sua implicações, dia consagrado a Saturno. Regente do signo de Capricórnio, 22 de dezembro a 22 de janeiro, justamente um período onde as forças das trevas caminham pelo mundo, inúmeros casos de vampirismo são registrados em várias culturas nesta época. A morte é intimamente associada a Saturno, o Cronos grego, devorador dos próprios filhos, ligado ao bode sabático, ao Bafomé Templário, ao sabás das bruxas. Para a cabala, Binah, (ver capítulo...) a grande mãe, tanto é quem dá a vida como a que absorve, simbolizada pela terra onde o corpo é depositado. O Barão Samedi é o senhor dos mortos, que ressuscita deste reino justamente no sábado. É o imperador dos cemitérios, dos ritos fúnebres. Quando o Sol esta em Escorpião, em especial no mês de novembro, as almas dos mortos estão andando sobre a terra. Esta crença do Vodu lembra o Halloween e o Samhain Celta onde os portais entre os mundos estavam abertos. De acordo com convicção do Vodu haitiano, toda pessoa tem duas almas: Quando uma pessoa morre, uma das almas segue para o céu. A outra alma fica nas proximidades do cadáver, ou vagando pelo mundo. Esta alma que vaga pelo mundo muitas vezes é chamada de zumbi, que pode ser a alma de alguém que teve morte violenta, uma adolescente, ou uma pessoa que por qualquer motivo não teve os ritos fúnebres. Também o nome zumbi também designa uma alma que foi escravizada por um sacerdote vodu, prática também encontrada entre magos egípcios. O sacerdote tem esta alma como escrava para realizar seus intentos. Aleister Crowley alerta que certas práticas de vampirismo além de drenar o individuo, podem escravizar a alma após a morte através do vampirismo. O rito é feito à noite em um cemitério, e o Barão Samedi é invocado. Este tipo de zumbi pode ser enviado contra alguém, causando obsessão. Ele consome a vitalidade da pessoa, matando-a eventualmente. Outra forma de zumbi é o morto-vivo, ou talvez melhor seria vivo morto. O método é o mesmo narrado acima, com a variante que a vítima ainda esta viva. Mas ela perde totalmente sua vontade, ficando a mercê do sacerdote vodu. Possivelmente ervas são usadas para facilitar o ato, a vítima as ingere, ou são jogadas na casa onde habita. A forma mais conhecida de Zumbi é aquela feita após a morte, onde o sacerdote vodu rouba o cadáver da sepultura, e através de rituais o reanima. Willian Seabrook, numa visita ao Haiti relata vários rituais Vodus e a crença em Vampiros. Ele menciona que os vampiros são mulheres, podem ser que vivas ou mortas, que saem à noite para sugar o sangue de crianças. Os lobisomens, chauches em crioulo, eram homens e mulheres que se transformavam em lobos para atacar a criação. Outras fontes mencionam que as bruxas do Haiti e Caribe eram chamadas Loupgarou (lobisomem em francês). Suas capacidades mágicas eram atribuídas a um pacto feito com o demônio. Em troca, elas ofereciam sangue de suas vítimas a ele todas as noites. Elas faziam esses ataques usando seu corpo astral. O Asema, o vampiro do Suriname, faz seus ataques à noite como uma bola de luz, também entrando por frestas.
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